sábado, 17 de março de 2012

O garoto das meias vermelhas

Ele era um garoto triste, procurava estudar muito, na hora do recreio ficava afastado dos colegas como se estivesse procurando alguma coisa.
Todos os outros meninos zombavam dele, por causa das suas meias vermelhas.
Um dia, o cercaram e lhe perguntaram por que ele só usava meias vermelhas, ele falou com simplicidade: No ano passado, quando fiz aniversário, minha mãe me levou ao circo, colocou em mim essas meias vermelhas, eu reclamei comecei a chorar, disse que todo mundo iria rir de mim, por causa das meias  mas ela disse que tinha um motivo muito forte para me colocar as meias vermelhas, disse que se eu me perdesse, bastaria ela olhar para o chão e quando visse um menino de meias vermelhas, saberia que o filho era dela.
Ora, disseram os garotos, mas você não está num circo, porque não tira essas meias vermelhas e as joga fora?
O menino das meias vermelhas olhou para os próprios pés, talvez para disfarçar o olhar lacrimoso e explicou: É que a minha mãe abandonou a nossa casa e foi embora. Por isso, eu continuo usando essas meias vermelhas, quando ela passar por mim, em qualquer lugar em que eu esteja ela vai me encontrar e me levará com ela.
Muitas almas existem na Terra solitárias e tristes, chorando um amor que se foi. Colocam meias vermelhas, na expectativa de que alguém as identifique em meio à multidão  e as leve para a intimidade do próprio coração.
São crianças cujos pais as deixaram um dia em braços alheios, enquanto eles mesmos se lançaram à procura de tesouros nem sempre reais.
Lesadas em sua afetividade, vivem cada dia à espera do retorno dos amores, ou de alguém que lhes chegue e as aconchegue.
Têm sede de carinho e fome de afeto, trazem o olhar triste de quem se encontra sozinho e anseia por ternura.
São idosos recolhidos a lares e asilos, às dezenas, ficam sentados em suas cadeiras tomando sol, as pernas estendidas, aguardando que alguém identifique as meias vermelhas.
Aguardam gestos de carinho, atenções por pequenas que sejam.
 Marcam no calendário, para não se perderem, a data da próxima visita, do aniversário, da festividade especial,
Aguardam...
São homens e mulheres que, se levantam todos os dias, saem de casa andam pelas ruas, sempre à espera que alguém que partiu que retorne.
Que o filho que tomou o rumo do mundo e não mais escreveu, nem deu notícia alguma, volte ao lar.
São namorados, noivos, esposos que viram o outro sair de casa um dia, e esperam o retorno.
Almas solitárias, lesadas na afetividade, Carentes...
 * * *
O amor sem dúvida é lei da vida.
Ninguém no mundo pode medir a resistência de um coração quando abandonado por outro, e nem pode aquilatar da qualidade das reações que virão daqueles que emurchecem aos poucos na dor da afeição incompreendida.
Todos devemos o respeito uns aos outros. Somos responsáveis pelo que cativamos ou nos confiam seus corações.
Se alguém estiver usando, meias vermelhas por nossa causa, pensemos se este não é o momento de recompor o que se encontra disperso neste mundão a fora...
Pensemos nisso!

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